Opinião

50 yrs swell: a história e as ondas

50 yrs swell: a história e as ondas
Arte sobre foto publicada pela Revista Hardcore.

A história é uma coisa muito louca. A gente sabe que ela existe, que algo aconteceu, que a realidade surfou a onda do tempo. Mas não sabe exatamente o que ela é. Tudo o que a gente tem são vestígios: objetos, imagens, textos. Cada um vê tudo isso com os próprios olhos. Ou melhor, vê parte disso: ninguém vê todos os vestígios. Por isso a história nunca é definitivamente conhecida. E então tem sempre uma disputa pra dizer o que ela é. Ou foi.

A história é uma onda. Ou melhor, um surfista numa onda. Tem sempre infinitos ângulos de onde se pode ver o cara (e a onda). Tem sempre infinitos juízes (e juízos: o ângulo sempre se desloca no tempo e no espaço). E essa onda é uma só. Desde o início até o fim. Surfada por um sujeito que ninguém sabe quem é.

Mas a história é também concreta. Não é só ilusão, não é só a historinha na mente de cada um. É a realidade, é a onda em si. A realidade se compartilha. Se registra. Se mede. Uma onda pode ter quatro metros. Uma traição pode custar trinta dinheiros. Uma bomba pode explodir com cem megatons. Os números permitem comparações. Os fatos assumem dimensões. A história se conta (e se monta) ao se juntarem essas peças: é preciso respeitar as proporções. Algo como criar o Frankstein da Mary Shelley (ou a Guernica do Picasso).

Há poucos dias bateu um swell em Maui, Havaí. Era a rara e clássica ondulação de sudeste, que entra na Baía de Ma’alaea e cria o que Kai Lenny considerou “the fastest wave in the world”. Detalhe: essa foi a maior em cinquenta anos: “50 yrs swell”. O próprio Lenny escreveu: “a day that goes down in history for Maui!”

Talvez seja exagero. Mas talvez não. Os havaianos são rigorosos ao medirem as ondulações e têm sensibilidade pra estimar a velocidade dum surfista. Mais que tudo, há as imagens: Kai Lenny, Lucas Godfrey, Eli Hannemann et al pegaram as mais impressionantes ondas dos últimos tempos. Ondas pra história do surfe.

A história é muito louca. A realidade vai surfando a onda do tempo e nós somos os juízes e a plateia e o próprio surfista. E tudo gira como aquele tubo de Maui.

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