Arte

A Feira do Livro de JS

A Feira do Livro de JS

 É massa subir as rampas da Scar. Pra lá e pra cá, pro leste e pro oeste, até o alto. Então descer vertiginosamente as escadas do grande teatro. No escuro imersivo da câmara acústica. Como quem desliza até um mergulho no palco. Como quem desaba no primeiro abismo de uma montanha russa.

Montanha russa é massa. A expectativa palpitante entre os ruídos da subida vagarosa. O êxtase prolongado nas curvas de uma arquitetura enviesada que inventa um voo nos trilhos. Assim é a Scar. Descendo-se pelas escadas do teatro, sentando-se nas cadeiras, imaginando-se os trajetos das ondas sonoras roçando as formas abstratas esculpidas nas paredes e no teto – assim, de repente, voa-se.

Cheguei atrasado e quando me sentei eles começavam a tocar “Piano na Mangueira”, do Tom e do Chico. Muito bem tocado. Uma gafieira. Um jazz. Sei lá. Uma melodia fluindo em golpes arredondados. Um lirismo autêntico. Um voo inventado entre as quatro paredes – revestidas de formas abstratas – do teatro. Isso ali, assim, dado, oferecido, gratuito. Um presente da Feira da Livro.

A Feira de JS é massa. Muito massa. Passei nos estandes. Vi a “Ocupação Karan”. Conferi a programação. Tudo muito interessante. Toda a composição do evento, muito bem pensada. A Feira do Livro é também da música, do teatro, das artes compostas de poesia e atuação, de pensamento e ação, de solidão e público. Como uma massa de ar puro, a Feira se espalha. Invade a urbe. Se alastra pelas ruas, pelos parques, por sobre os muros velhos dos redutos mais tristes da cidade.

JS é massa. Mas também é um pouco triste. Um pouco cega. Um pouco má. Paira no ar, às vezes, uma nuvem tóxica. Pesada. Opressiva. Às vezes chegamos a pensar que ela, a nuvem, é um dado inevitável de nossa realidade. Mas não, não é. Nossa realidade tem a Scar. Tem a Feira, o Femusc, o Festival de Violão. Os músicos, os atores, os escritores. Os amantes das artes e os amigos da razão. Os que não sucumbem à loucura orwelliana de ver monstros em leitões. E sobretudo aqueles que, nos momentos em que a loucura é mais crítica, resistem. Um João, um Isaac, um Xireda. O Xireda é massa.

Talvez este momento, este agora, seja um daqueles críticos. Talvez a loucura esteja disseminada pelo vale. Talvez a nuvem tóxica esteja nos oprimindo pesadamente.

Talvez. Mas agora estou descendo as rampas da Scar. Ouvindo os ecos da música. Olhando o sorriso das pessoas. Respirando o ar leve, puro, revigorante que a Feira do Livro exala. Sinto que isso é saudável. Sinto que é um sinal de que o pior já passou. Sinto que a Feira nos salva, ou nos redime, ou pelo menos nos alivia. Sei que isso é massa.

Werner Schön

Werner Schön tenta fazer literatura. Em Jaraguá do Sul.

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