Opinião

Darwinn Harnack: Quem decide?

Darwinn Harnack: Quem decide?
Imagem: Scott Hutchison - Óleo sobre Tela.

Você tem dinheiro no bolso e vontade de comprar uma barra de chocolate. Eu te pergunto: qual a sua liberdade de escolha nessa compra? 

A resposta pode não ser tão simples quanto parece.

Em um corpo humano costumam ficar alojados aproximadamente 100 trilhões de microorganismos compreendendo bactérias, vírus e outros elementos.

Estudo científico aponta que a vontade constante de comer chocolates, pode estar associada a uma espécie de bactéria residente nos intestinos e que influencia quimicamente os neuroreceptores cerebrais humanos, como forma de obter os nutrientes de que ela, bactéria, necessita. 

Desta forma, uma vontade incontrolável de comer chocolates pode não ser exatamente “sua”, mas de uma comunidade que vive com você.

Esse é o modo um tanto tosco que optei por introduzir o tema do livre-arbítrio. A questão é a seguinte: até que ponto, afinal, realmente temos livre-arbítrio”? Em que medida cada indivíduo é mesmo autônomo na tomada de suas decisões pessoais?

Se bactérias podem influenciar diretamente os nossos hábitos alimentares, o que se pode dizer da influência dos caracteres genéticos e do “locus” ambiental e cultural em que uma pessoa está inserida? 

Ao que parece, o espaço para o livre-arbítrio não é tão amplo quanto podemos supor.

Hoje já se sabe que diversas características pessoais como inteligência, desordens psiquiátricas e traços da personalidade em geral podem ter influência genética, mas tem sido igualmente comprovado que estímulos ambientais e sociais podem provocar alterações genéticas.

Em outras palavras, cada um de nós tem uma personalidade formada a partir de caracteres genéticos e influências socioambientais, que moldam nossos gostos pessoais, vontades, hábitos e modos de manifestação. 

Portanto, aquela sensação interna de que foi você que tomou uma iniciativa, uma tomada de decisão, definiu uma direção na vida, em verdade, pode não ser algo tão originalmente “seu”, mas de uma série de fatores, que vão de bactérias e genes até educação, tradição cultural, influência das diversas mídias, dentre outros.

Analisar a conformação de um ser humano, funciona, mais ou menos, como a observação de uma casa. Num primeiro olhar, ela pode se mostrar como uma unidade, porém, olhando em maior profundidade, trata-se de um grande conjunto de tijolos, cimento, vidros, madeiras, tinta, telhas, canos e fios que, devidamente organizados, dão uma aparência de unidade e harmonia ao todo.

Pessoalmente, não acredito em destinos traçados. O único destino traçado é a morte. O que se faz em uma vida vai sendo descoberto a cada esquina percorrida e essa é, justamente, a graça da coisa. 

Por outro lado, existem tendências que cada um de nós pode observar em si mesmo e nas pessoas próximas, que podem explicar uma série de comportamentos, preferências e vontades, a serem vistas não apenas como algo original do indivíduo que está sendo observado, mas dessa conjunção de fatores que molda e constrói cada um de nós. 

https://www.iflscience.com/health-and-medicine/are-your-bacteria-making-you-fat/

Darwinn Harnack

Darwinn Harnack é advogado e professor.

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