Arte

Deus abençoe o rolê

Deus abençoe o rolê
Arte de Gustavo Reif (@reifgusta)

O rolê começou na nuvem. Ou terminou, sei lá.

Então descemos. Rodamos pelos bares do centro. Pela beira do rio. Pelo abismo das sombras. Quando vi, tava só. Discordando da sorte. Duvidando da vida. Procurando a razão. E achei vc. Na noite ou no nada ou no nens. Ou não, sei lá.

Sei que vc dançava. Louca & feroz & perdidamente. Olhos fechados. Braços abertos. Sem dizer nada. Ou dizendo, mas só com o corpo. Nossos corpos ainda dizem muito. Nossas vozes, sei lá. Que palavras dizer?

Arte? Vida? Brasil? Juventude? Medo? Futuro? Bolso… não, a gente não procurava palavras. Teu corpo dizia tudo. E o meu só respondia sim, sempre sim. A vida é uma noite aberta cheia de luz. Há tanto pra fazer. Tantas ruas pra andar. Tantas luas pra nascer. Bora sair pra ver a lua: as palavras que enfim ousei te dizer.

Então saímos. Caminhando pelas trilhas. Pelas linhas negras dos trilhos. Pelo barulho ausente do trem. Quando chegamos na ponte vc teve aquela ideia idiota. Na verdade, linda. Ficamos sobre o pilar bem no meio do rio. Quando ouvimos a buzina o tempo parou. E o trem passou sobre nossas cabeças & gritos & risos.

Eu perguntei o que foi isso. Vc não sabia dizer. Mas um abraço respondeu: teu peito pulsando, teus olhos sorrindo, tua boca vermelha. Quanto me disse tua língua oculta?

Então respiramos. Olhamos juntos pro fim do trilho. Era o leste, era onde nasceu a lua. Era Deus, vc disse. Engraçado: essa foi tua única palavra. O rolê terminou na nuvem. Ou começou, sei lá.

Werner Schön

Werner Schön tenta fazer literatura. Em Jaraguá do Sul.

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