Arte

É impossível ser poeta em JS

É impossível ser poeta em JS
Foto de um rascunho de Werner Schön

Tudo começou com um insight: o poeta é ele mesmo e as circunstâncias.

Imediatamente concluiu: é impossível ser poeta em JS.

Nem a monotonia, nem o provincianismo: o que sufocava sua inspiração era o orgulho jaraguaense. “Um pedaço da Europa no Brasil”, diziam todos, “uma cidade de primeiro mundo”.

Decidiu: iria fugir, vazar, embora pra sempre.

Mas tinha um problema: grana.

Tentou viver durante três meses ascetas no Rio da Luz. Mas se afogou nas sombras da solidão.

Voltou. Caminhou durante sete horas seguidas entre a Reinoldo e a Marechal. Ajoelhou-se diante da catedral e ali se epifanou.

Vendeu tudo: a bike, os discos, a herança da mãe viva.

A mãe chorou quando ele se despediu.

Ele não. Enfiou as coisas no porta-malas do Uno e se mandou.

Pensou: a nova vida começa agora.

Pensou mais: enfim terei a poesia que entrevi nas rachaduras do muro.

E sonhou: talvez eu vá até o México.

Mas teve um problema: uma blitz em Guará.

O policial considerou que seu tijolinho era pesado demais pra servir apenas ao consumo próprio. Havia também meia-dúzia de papeizinhos encharcados de delírio.

Quando entrou no presídio até se consolou: talvez no cárcere eu me torne um poeta. Mas o carcereiro lhe deu palmadinhas nas costas: “calma, rapaz, aqui não é como nos outros presídios do Brasil”. E todos ali sempre repetiam: “esta é uma prisão de primeiro mundo”.

Werner Schön

Werner Schön tenta fazer literatura. Em Jaraguá do Sul.

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