Arte

o ó

o ó

os poetas antigos
gils e dantes e depois wills
a poesia barroca
padre gôngora e gregório o boca
os poemas românticos
da snake de blake ao medo de azevedo
palhaços parnasos e pósteros clowns
cruz e souza e rimbaud
elliot ee cumings e pound
todos tantas vezes
nos versos de mais êxtase
interjeicionavam
o velho e
cheio
ó

mas aí morreu o ó
pois o mataram os modernos
e sem chegar aos abstratos
foi piada em dadaísmos
até virar pó antes do pós
poetismo de nós

mas ó
por quê

era tão sei lá
aquela tristeza tanta
aquela certeza morta
aquela puta surpresa
na boca redonda dum münch
que se entrelia no o
do ó
era tão assim
essencial o som
do si
era tão em si
a poesia profeta
que revelava o poeta pra nós

mas não
nós não queremos nem
poesia nem poeta nem um em si
nem podemos mais declamar
o verso-x em www nem temos
talvez mais palavras nem bocas
nem ós
mas só nós e a paz
louca do ruído ruminante
das redes umbilicais
de bills & marks & jobs

acontece que hoje nasci desesperado
esperando dizer o que se possa
ouvir e ouvir o que se deva
cantar e rezar a quem esteja
aqui
em mim
no fundo da falsa
persona que envergo
envergonhado

e a mim
que então me adenso
preciso abraãmicamente levar a fé
em que de novo haverá
sentido em dizer
ó
meu eu
onde estás

Victo Sum

Victo Sum julga escrever desde um lugar distante, tão distante que talvez ainda não exista

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