Arte

O pouso

O pouso
Arte de Wagner Rengel

É difícil aprender a voar.

Mais difícil ainda é alcançar a arte do pouso.

Os pássaros voam por aí simplesmente. E pousam numa habilidade que me faz inveja.

Queria escrever como o pouso do pássaro, muito mais do que o manjado voo. Como seus olhos miram um lugar, como diminui a velocidade, como estica as patas, ajeita as asas e agarra a terra ou a árvore e seu olhar atento, rápido e vivo se apresenta, indiferente ao meu espanto.

E eu aqui dentro desta máquina voadora, sentado do lado de uma freira que folheia a revista da companhia.

A comissária de bordo me pergunta, biscoito doce ou salgado.

Que falta do que dizer, eu penso.

A freira, que também não sabe voar, preferia vê-la rezando.

Só os pássaros não se perguntam como e aonde irão pousar. Tão pouco rezam. Não precisam.

Eu, que já rezei nessa vida, acho de bom grado ver a freira rezando por nós todos aqui.

O tédio é tenso e quieto aqui dentro.

Vamos pousar.

Wagner Rengel

Wagner Rengel quis ser silêncio depois pássaro depois peixe depois vento depois grilo quis ser gente depois nada. Mora em Curitiba.

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