Opinião

Os três “timaços”

Os três “timaços”

Ao fim da última rodada do Brasileirão havia duas unanimidades. Primeira: este será o campeonato mais disputado dos últimos tempos. Segunda: os candidatos ao título são três “timaços” (basicamente por isso, o campeonato será tão disputado). 

Os três “timaços”, segundo as tais unanimidades, são o Atlético, o Palmeiras e o Flamengo. 

Obviamente eu discordo. Nenhum dos três é um grande time. Não há mais isso no futebol brasileiro. Timaços eram o Palmeiras de Ademir, o Atlético de Reinaldo, o Flamengo de Zico. Timaços eram aqueles que estavam entre os melhores do mundo. Timaços havia quando o nosso futebol era de primeira linha. Hoje temos aqui a segunda, talvez a terceira divisão do futebol mundial. 

Mas isso não me impede de aderir parcialmente ao coro unânime. Também acho que aqueles três times sejam os candidatos ao título e que, por isso, o campeonato deve ser bem disputado. Hoje me permito uma breve análise de cada um. Com isso faço uma análise do próprio campeonato; e, de resto, arrisco um prognóstico. 

Atlético Mineiro. 

Time fraco. Quando jogava com dois beques, já era bem ruim; com três zagueiros ficou horroroso. Às vezes emplacam bom jogos. Têm alas rápidos e atacantes que se mexem bastante. Mas não se esqueçam: Rever é o beque central titular, Cuca é o técnico. 

Além disso, deve ser desclassificado na Libertadores. Se não agora, enfrentando o Boca, depois. Teve muito azar no sorteio. Com essa desclassificação, vai se abater. Com o abatimento, vai cair de produção. Os oitocentos atacantes do elenco vão brigar entre si.
O elenco vai rachar. Não se esqueçam: Rever é o capitão, Cuca é o técnico. 

Com o racha, os credores vão se desesperar. Todos sabem que eles investiram tudo o que têm (e o que não têm). Se os resultados não vierem, a vaca vai pro brejo. Ou melhor: o galo. A raposa, vocês sabem, já foi. 

Palmeiras.

O Verdão tem um estilo bem definido: retranca e chutão pra frente. Dá pena ver o Roni correndo feito um maluco atrás da bola. Os times do Joel Santana tinham mais requinte tático. 

Há quem diga que o Abel é gênio. Isso não surpreende: no futebol sempre tem alguém pra dizer qualquer coisa. Surpreende que exista quem acredite. 

De resto, o elenco é vasto e plano como a plantação de soja do Blairo Maggi. Sem estrelas, sem craques, sem brilho. Claro que é melhor do que todos, ou quase todos os outros do campeonato. Ainda assim, não consigo assistir a um jogo do Palmeiras sem ter um acesso de bocejos. 

Flamengo. 

É o melhor time do país. Mas, se fosse tão bom quanto a torcida acha que é, iria ganhar o torneio intergaláctico e se consagrar o campeão da eternidade. 

Flamenguista se ilude. Vejam o que houve no último jogo. O time do Bahia é horroroso normalmente. No domingo, com vários desfalques, foi ainda pior. O Flamengo abriu o placar com um pênalti roubado. Fez o segundo numa jogada nas costas do lateral do Bahia que, salvo engano, cumpriu a pior atuação individual já registrada no Pituaçu. No segundo tempo, depois de levar um calor, o Flamengo achou o terceiro gol e matou o jogo. Depois fez mais dois no embalo. Com a goleada, a torcida, a imprensa, os oráculos rubro-negros, todos urravam freneticamente: Renato é um gênio, nosso time voltou, rumo a Tóquio. Haja oba-oba. 

Mesmo os mais serenos analistas têm dito que Renato “arrumou o vestiário”. Não gosto da expressão. Não só porque soa obscena. Mas porque, a rigor, não significa nada. O que eles querem dizer? Que Renato é um bom “gestor de grupo”? Mas então o tal “grupo” tem que ser convencido a ter motivação, a correr em campo, a querer vencer? Fosse assim, deveriam ter contratado o Augusto Cury. Ou, sei lá, um pastor pentecostal. 

O time Flamengo é melhor que os outros. Se vencer, o que sempre pode acontecer, tudo bem. Se perder, é crise. Daí o Pedro vai fazer beicinho. O Bruno Henrique vai reclamar de jogar aberto marcando o lateral adversário. O Tiago Maia vai querer a vaga do Diego ou do Arão. E o Renato, de “gênio do vestiário”, vai passar a “burro da casamata”. 

Conclusão. 

Muita coisa pode acontecer. Os elencos podem se alterar. As outras competições podem atrapalhar. Tudo no futebol parece mudar completamente a cada semana. Mas basicamente esses três times são, de fato, os candidatos ao título do Brasileirão. Não são timaços. Mas não há outros no páreo. Afinal, o São Paulo está mal, o Corinthians está muito mal e os gaúchos, ao que parece, estão fora da disputa. Quanto ao Bragantino, se for campeão, eu me aposento. Juro.

Serjão Santana

Serjão Santana jogou futebol amador em Itajaí. Fã dos irmãos Rodrigues, abraçou a crônica esportiva. É marcilista e botafoguense.

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