Opinião

Você consumiria k-pop se não fosse em 1984?

Você consumiria k-pop se não fosse em 1984?

“♫ Sábado na balada/ A galera começou a dançar/ E passou a menina mais linda/ Tomei coragem e comecei a falar/ Nossa, nossa/ Assim você me mata/ Ai, se eu te pego/ Ai, ai se eu te pego” (Ai se eu te pego, Sharon Acioly e Antônio Dyggs).

Se você é cringe como dizem que sou, talvez não tenha entendido a terceira palavra ali do título: K-pop. Até poderia imaginar que fosse algum tipo de potássio popular, mas não é. K-pop é a abreviação para um gênero musical da Coreia do Sul, mais especificamente para Korean pop. É uma espécie de mistura de quase todos os ritmos atualmente populares no Ocidente com ritmos coreanos, e com muitos elementos visuais. Quando os vejo lembro de Menudo, Back Street Boys, New Kids on The Block, Polegar, Dominó e por aí vai. Nunca curti esse tipo de banda (tudo bem, até escutei Menudo quando era criança), mas é inegável que fizeram sucesso nas suas épocas.

E não, o K-pop não é tão novo assim. Seu marco inicial se deu com um grupo de 1992 chamado Seo Taiji and Boys. O fato é que agora as bandas K-pop são febre mundial, figurando, algumas das bandas, como as mais reproduzidas nas plataformas de áudio e vídeo, mesmo que você nunca as tenha ouvido ou visto.

Com tudo ao que os ídolos têm direito

As bandas K-pop trazem e remetem a tudo o que os ídolos ocidentais têm. Mas não só lá na Coreia do Sul. Estão presentes em boa parte do mundo e fazem um tremendo sucesso entre a juventude do Brasil também.

Além dos milhões de seguidores nas suas redes sociais e mais tantos milhões de visualizações e reproduções nas plataformas de áudio e de vídeo, as bandas, e seus membros vendem muita roupa, calçado, álbum, caderno, e todo tipo de badulaque que se possa imaginar.

É o que se pode chamar, tranquilamente, de sucesso mundial. E como bandas sul-coreanas, com uma língua tão específica e cultura tão diferente, ultrapassaram as fronteiras de seu país de origem e chegaram até na América do Sul?

1984

A resposta está em 1984. O que estamos vivendo atualmente, não o ano. A obra de George Orwell (para alguns, a obra-prima dele), publicada pela primeira vez em 1948, desenha um futuro (1984) onde os países são poucos, estão eternamente em guerra e – pelo menos aquele onde mora a personagem principal do livro – têm um Grande Irmão que vê, ouve e cuida de tudo.

Parece muito com o que vivemos hoje, todos conectados, deixando rastros digitais suficientes para qualquer corporação fazer um menu desagradável sobre nossos hábitos, gostos e vontades (inclusive as que nem sabemos que temos). Para quem tiver interesse, nesse link tem o vídeo de um experimento que associa câmeras de rua a fotos de perfis abertos no Instagram. Isso mesmo: eles conseguem identificar pelas câmeras nas ruas as pessoas no Instagram. Impressionante e assustador.

A internet abriu horizontes que dificilmente seriam vistos antes. A democrática rede mundial de computadores (que tem a liberdade cerceada na China, na Coreia do Norte e na Rússia, para ficarmos em três exemplos) permitiu que todo e qualquer material, de boa ou má qualidade, seja difundido para um número de pessoas imensurável com um custo muito baixo.

Ou seja, antes da internet como é hoje, dificilmente os jovens brasileiros teriam acesso a esse viés cultural de um país tão diferente como a Coreia do Sul, assim como às crianças do Masaka Kids Africana, ou aos Carregadores de Caixão de Gana. Ou, na via contrária, quase ninguém, além dos brasileiros, conheceria a música do início desse texto, na voz de Michel Teló, que virou um estrondoso sucesso quase no mundo todo!

Na internet, nesse novo 1984, qualquer coisa pode virar um fenômeno da noite para o dia, para o bem ou para o mal…

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