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A mina de ouro.

A mina de ouro.
Segundo a polícia, o túnel tinha cerca de 30 metros (Foto: PM Ambiental, Divulgação)

Há pouco mais de um mês, a imprensa local repercutiu um fato curioso: a polícia havia flagrado um garimpo em Blumenau. Passado algum tempo, a notícia caiu no esquecimento. Mas a curiosidade permanece: então há ouro por aqui? A Abertura retoma essa questão (e outras a ela relacionadas). E tenta encontrar respostas – inclusive pra explicar essa curiosidade.  

A Polícia Militar Ambiental abordou, no dia 4 de fevereiro, dois homens que mantinham um garimpo clandestino em local próximo a Blumenau. Os homens exploravam uma “mina” com um túnel de cerca de trinta metros. Tinham petrechos e outros materiais usados na garimpagem. Segundo eles próprios confessaram, estavam à procura de ouro.

A Polícia esclareceu que não houve flagrante; por isso os homens foram liberados após registrada a ocorrência. A “mina” foi fechada e o poder público cuidará da recuperação ambiental da área.

Não foi encontrado ouro com os homens. Eles disseram, segundo a Polícia, que jamais encontraram o minério. Não se sabe se falam a verdade. Mas algo é certo: a julgar pelos esforços dos garimpeiros na construção da “mina” e pelos riscos que enfrentaram, eles estavam bem confiantes em encontrar o cobiçado metal.

Passado pouco mais de um mês deste fato, ele já foi praticamente esquecido; mas não deixou de ser curioso. Então há ouro por aqui? Onde exatamente? Vale a pena procurá-lo?

A Abertura se dispôs a reabrir tais questões (se é que já tenham sido ‘abertas’ antes); e tenta dar respostas – não só às questões propriamente ditas, mas à curiosidade que as motiva.

Afinal, há ouro em Blumenau?

Existe, sim. Esta é a resposta. As reportagens que noticiaram a descoberta do garimpo atestaram a existência do minério por estas terras. Especialistas ouvidos sobre o tema são unânimes em afirmá-lo.

Entretanto, estes mesmos especialistas dizem que existe pouco ouro. Muito pouco. Tão pouco que torna a extração uma atividade inviável. Especialmente se considerados os danos ambientais que essa atividade causa.

Na verdade, há ouro em boa parte do vale do Itajaí-Açu. Desde Apiúna até a foz. Minúsculos “grãos” do metal são encontrados no interior de seixos de cascalho nas margens do rio. São tão minúsculos que não compensam o esforço. Os especialistas, portanto, não parecem levar a sério a cobiça dos dois “garimpeiros” presos pela Polícia Militar Ambiental. A busca pelo minério, afirmam, teria sido um crime – e uma tolice. No máximo, “um sonho de uma noite de verão.”

Mas onde fica a mina? E o ouro?

Que seja criminosa a garimpagem não autorizada, é indiscutível. Que seja uma atividade bastante lesiva ao meio ambiente, também. Mas que seja uma tolice supor a existência de ouro no subsolo de Blumenau, isto já é bem mais polêmico.

Os garimpeiros não procuravam minúsculos “grãos de ouro” nos seixos de cascalho às margens do rio. Procuravam ouro no fundo de um túnel de 30 metros. Onde fica essa mina? Por que cavaram tão fundo, e se arriscaram tanto, precisamente nesse local?

A Polícia não divulgou o local da “mina”. Disse apenas que fica na região de Blumenau. Mas é possível concluir que se situa na borda leste do Parque Nacional da Serra do Itajaí. Talvez próxima a Gaspar Alto. Decerto nas imediações da estrada que liga Blumenau a Guabiruba.

Alguma razão levou os garimpeiros até ali. Uma informação? Uma intuição? Uma crendice? Não há, por enquanto, essa resposta. Mas algo é certo: esses homens se arriscaram no fundo de um buraco de trinta metros. Somente uma razão muito forte explica tamanho risco.

“Tem muito ouro por aí”, diz homem Xokleng, “mas…”

As lendas sobre o ouro na bacia do Itajaí-Açu são antigas. Os habitantes da área, especialmente os que vivem nas regiões mais altas do vale, conhecem bem essas lendas. Muitos creem que sejam verdadeiras.

Ouvimos um homem do povo Xokleng, nação indígena que habita o vale do Rio Itajaí-Açu do Norte, sobre o tema. Ele não vacila: “tem muito ouro por aí.” E acrescenta: “Sabemos disso há tempo, desde o tempo dos nossos antepassados”.

Mas ele adverte ainda mais enfaticamente: “Não toquem nesse ouro. A natureza vai ser sacrificada na busca por essa falsa riqueza, riqueza de poucos. E a natureza é bem mais valiosa: é riqueza de todos”.

Palavras lapidares. Nada a acrescentar. Assunto encerrado.

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